sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ah!, o amor...

Essa flor que embriaga
Adaga certeira
que mata uma dor
se for por inteira

Me traga e devolve
o sujeito que sou
ao peito cantante
Lhe afaga e me cega!

Brisa cortante
de um só mar a dois
sem jeito de ser
menos brega, pois.
esperar sentado
não ver a hora
de ser dispensado,
tanta demora
demora pra fazer sentido
agora

mas

quem sabe
um dia faz.
come essa
cabeça, rima!
começa-me à beça
um cometa

passou passarinha
palhacinhazinha
por minha porção
mais afã, menos sã

de manhãzinha
desperto
despido
de perto
de ouvido

depois de
jogar perereca
e pular
feito rã.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Coma-se

Palavras aleatoreiam-se
como se precisassem fazer
algum sentimento
além do sentido de sempre

Porque estou de olho
no seu bigode cor de rosa
e a vida não passa
de um pôr-do-sol congelado
Tipo sorvete de amora
lambuzado na cara daquela
velha criança recém-
-nascida senil.

Você não entende nada
ou não quer entender
mas é bom assim mesmo
(alguns irão defender
que é até melhor, inclusive)

E o caroço coração
de uma fruta furta-cor
alcalina alcaparra
cigarra no cio
sonhando doce deleite
gengibre jibóia.

domingo, 13 de abril de 2014

Por um silêncio que não quer calar

Eu fiz amor com Deus.
Sim, eu fiz.
Tudo bem: não fazia
a menor ideia do que
estava fazendo.

Quando ela me disse quem era
mal pude acreditar;
mas confesso que
fez todo sentido.
Talvez tenha sido
justamente naquele momento
que o encanto se quebrou;
me vi só, desamparado,
espelho de uma
ilusão mulher.
Loucura?
A verdade é que devia
ter ficado calado.
Infelizmente, não soube;
afinal, como caber sensatez
onde o coração parece saber
tão bem o que quer?
Falei, continuei falando:
boca, corpo, mente...
Ah! se ao menos naquele beijo
houvesse um pouco menos alma!
A calma saberia,
deixaria a cama em paz!
(shhh...)

Não importa. Fato é que agora,
me deparando com essa outra paz
fingida, tingida de palavras
que nada fazem a não ser
delatar a inquietude de um espírito
cafeinado, nado a esmo numa poesia
inacabada, oceano de ideias rasas,
incompletas e complexadas,
repletas de um solitário
sexo mental, infértil;
pura masturbação. Ou não:
quem sabe tudo isso seja apenas
nexo demais...

quarta-feira, 19 de março de 2014

Tenho sede. Muita sede.
De água mineral.
De vida, chuva, cachoeira.
Do cheiro da mata úmida.
Do verde da paisagem
sob o azul.
Da música dos grilos,
do grito dos pássaros.
Da terra colorindo-me
a sola dos pés.
Das pedras esculpindo calos,
cantando caladas.

Tenho sede. Saudade.
De alguém que fala
minha língua, seja
com beijos, palavras,
silêncios. Olhares e
sorrisos certeiros.
Inteiros. Molhados.
Daquele lugar ao seu lado
Na cama, na rede, na rima
(Embaixo; em cima...)

Tenho sede. Muita,
muita sede!
Sede de tudo que falta
pra compor minha Sinfonia.
Sede, de fato,
de tudo que for sintonia!...
E de tudo mais que
também é poesia.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Não basta silenciar;
é preciso dizer o silêncio.

E seja do jeito que for
(com olhos, mãos ou
palavras),

de um modo que
se faça ouvido
até
pelo surdo.