sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pelo bolo que você me deu

Queria poder dizer que não estou nem aí,
Que vou tomar um capuccino e comer uma fatia
Do bolo de chocolate que eu fiz ontem
E você, que fique aí se quiser, problema seu.

Pode até ser que seja verdade,
Que você não sabe o que está perdendo
E eu ando reclamando de barriga cheia;

Mas se a barriga tá cheia, a cabeça também,
E o coração, parece tão vazio...

Eu fiz o bolo pensando em você, e você nem

Nem faz idéia do que eu sinto

e sinto muito...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Não deixe uma alegria engolir sua vida

No abrigo da tua voz
Eu quero estar a sós,
Tragando a nuvem negra
Que dessa vez
Não choverá.

Das cinzas

E o tempo cinza da espera
Vai tomando aos poucos
A feição colorida
De uma Era.

Ah, impaciência!
Tu que tanto insistes
Em tomar as vezes
E as vozes
Desse coração-balão,
Deixa-me agora!,
De uma vez por todas.

Não tenho o que temer
Da escuridão
Do dia de amanhã:
A eternidade
Já me abraça
Com a lealdade
Da fé cega,
Embalada pelo
Sorriso noturno
De um baião sublunar;

Porque eu,
Sou seu mais novo par:
Sou sua Fênix
A desabrochar
Na dança da Aurora...

domingo, 4 de setembro de 2011

Leitura experimental

Um livro que se lê
Apenas com os olhos
Não serve pra nada;
Não vale a pena,
A tinta ou as retinas.

Porque um livro,
para que faça
Algum sentido,
Deve se merecer
e ser vivido,
Experimentado.

Cada parágrafo,
cada frase, cada palavra
Em si deve ser
Devorada com a fome
de mais de uma semana;
Mastigada com a paciência
de um monge zen;
Digerida com o fogo roubado
de Prometeu;
Percebida, enfim,
Como um filósofo que percebe
A própria vida
ininterruptamente
Concebendo a si mesma...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Afinal

(inspirado na leitura de
"Uma aprendizagem ou
O livro dos prazeres",
de Clarice Lispector)


Afinal,
não temo a vida.

Ainda
Que ela teime
Em me abraçar
Todos os dias
Com seus braços
De extrema solidão,
Só posso por ela
Cativar-me
E cultivar o meu amor.

Pois o medo e o temor,
Idênticos em si
Como o são
A vida e o amor,
A estes, enfim,
se opõem.

Ou seja:
O amor é o real
E o medo é só ilusão.
E viver só de ilusão
É morrer-se,
Esquecer-se do real,
Descaber-se de todo
Sem ao menos
Acabar-se de verdade
Ou ter algum final.

Afinal,
não tem saída.

Apenas
Perdoando-se a priori
É que se pode perdoar
Os outros e assim,
Deixar naturalmente
Que as águas do tempo
Corram sem pressa
e sem medo
Em direção ao Mar...

E a vida que se ama,
Que perdure
pelo tempo que dourar!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Noite e lua

Você tão noite
e eu tão lua...
Como pode o meu olhar
Não querer você por perto?

Meu deserto é não lhe amar,
Meu incerto é sem você.
Minha alma nua
pede a sua voz

Pra vestir-me de canções
E me perder de uma vez
Na oração que você
mesmo ensinou

Você tão noite,
e eu tão lua...
Sua tez é o horizonte
Que me acura

Lua de Iemanjá

Divina beleza
Que tanto renega
Minha rendição,
Que tanto me cega
De doce paixão
Mas que ainda rega
Minha solidão

Tu és a essência
De flor tão altiva,
A impermanência
Da vida cativa,
A sede que bebe
No orvalho perene
Da rosa de pedra.

Tu és esse amor
Tão cheio de fome,
O nome que chega
Trazendo outra lua,
E cai como luva
Na insustentável
Leveza de amar...

Não findas no mar,
Pelo que eu sei;
Do lado de lá
Estás com o rei
Dessa tempestade
E na maré cheia
Virá me beijar

Primeira pista

Ver de perto essa ilusão
Me fez ter coragem
Pra sair do breu da solidão
E seguir viagem

Bebendo no sol da manhã
Embriagado de paisagem
Mordendo essa maçã
Sem sacanagem

Percebendo o azul
Que paira pelo ar
Recebendo a luz
Do Seu olhar

Parecer imortal
Só por hoje, e amanhã
Ir até o final
Sem pensar se é longe ou não

Se é amor à primeira vista
Não desista, por favor;
Os olhos sempre mudam,
Mas à luz do dia
É sempre a mesma cor...