sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ou não.

Um protesto

Contra tanta informação idiotizada
Na complexidade de certezas
que não provam nada além
De nossa própria ignorância
Perante as coisas mais simples da vida

Ou não;

Um grito incontido, estúpido
Escoando da boca pra fora
Ecoando a lugar nenhum,
Entrando e saindo pelos ouvidos
De quem não tem nada a ver com isso...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Verdejo

Do pé de uma bíblia qualquer
pego uma palavra madura e
parto-a ao meio;
devaneio ou não
no lugar de sementes
o que vejo são flores,
frutos de notas musicais
e suas respectivas cores.

Outras jazem, caídas
espalhadas pelo adro
de um sonhar imaturo
deixando escorrer
pela terra escura
os futuros que em si
carregavam.

Eram apenas ideias;
eram ideias, apenas.
Eram pequenas penas
esquecidas à sombra
de alguma árvore etérea...
Beiravam a boca de alguém
contemplavam-lhe os céus abertos
e não podiam voar!

Mas eis que o tempo
estendeu suas mãos e
num gesto indigesto

melodiou-lhes matéria.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Na linha do tempo


Na linha do tempo
Invento um sonho linear
A delinear-me auroras
E não horas;
Correndo em círculos
Atrás de mim mesmo
A esmo enquanto
Penso em linha reta.

Uma meta que se faça
Seta
Que desfaça essas idéias
Meras
Possibilidades aos milhares
Desencadeando em mim
Uma cascata de vontades
- disfarçando
O que simplesmente é.

Viveu tanto pra invejar
Crianças e animais?
Pois eu quero é a paz
Do mais humilde Dalai Lama!
Quero não mais esperar
Pela cama de Pasárgada
E ver-me livre enfim
Desse tudo
Que é tanto
E nem é nada.

Dia amante

Despertar
Ainda que tardiamente
O dia
Amante da verdade
À frente
Do tempo e da maldade

Rumo ao centro do peito;
Coração adentro.

Refletir
Diante dessa voz que
Nos guia
À semente da verdade
A luz
De um terno diamante

Instantes do Eterno:
Apenas uns infernos
a menos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Aprendiz de ser humano

Temos um prazo,
O prazo é curto
O caos é longo
E o absurdo.

Temos arbítrio
Fazemos karma
Voltamos ao vício
Do início onde estávamos.

Exatamente,
Sem tirar nem pôr;
A conta-corrente
Mede o seu valor...

Mas quem é você
Muito pouco importa,
A grande questão
É o que você faz.

E a paz de antemão
Já ficou pra trás:
Não damos um passo
Sequer ao presente!

Quem sente, porém
Não mente no traço o incompleto;
Cobaia do acaso
Exceto em demonstrações de afeto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Bom dia.

De vez em sempre
é melhor manter a calma,
Deixar o caminho aberto
pra que a alma
possa ir além

(Conhecer o mal de perto
só pra dar valor ao Bem).

domingo, 11 de novembro de 2012

Colheiteiro

Planto em você
Sementes do meu afeto
No intento de poder colher
As maçãs do seu rosto,
Num gesto que parece
Esboço, ensaio
De algo mais sério;
Deixando-me inerente às rosas
Como a rezar.

E quando seu riso
Estiver maduro, completo
Repleto de um gosto preciso
Seguro e aberto
Nascerão flores de valsa e balada
Em nossos jardins atonais
E vamos dançar uma única dança
Tão singular
Que jamais se repetirá
Por todo o sempre
- tampouco há de findar
Com o peso das horas.

Pois será de uma leveza
Imensamente plácida,
Revitalizante e simples:
Livre como nossos sonhos
Mais felizes.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A propósito

Não estamos no mundo
pra mandar, tampouco
pra inundar-lhe de imundícies;
Entramos neste mundo
pra mudar, trazer-lhe
outras notícias.

Sair da cadência
de tanto vão querer
Desse ciclo decadente,
Pode até não ser nada fácil;
Mas quem sabe a graça
esteja no difícil?
Um edifício que se ergue
sozinho,
Tijolo por tijolo
À beira de um abismo...

Só sei que ir vivendo assim
Sem sentido
Atrás de qualquer coisa
que atraia
Um ou mais sentidos,
Por aí toda escolha
É um precipício pois
Das duas uma:
Ou enjoa
ou vira vício.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Com correntes

Ser escravo ou não ser,
Eis a condição.
Ser alguém: escravo
de quem?

Escolher a escravidão
Que mais lhe apraz...

Aqui jaz a questão.

Nada pessoal

Pessoas não fazem sentido
Pessoas só fazem sentir
Pessoas não fazem
Pessoas só fazem
Pessoas.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Na seca

Pouco batom minha sina
Doce minh'alma menina
Funde-se aos olhos marrons;

Tons de garota
Confundem-lhe à pele.

Caia garoa aqui dentro
Refresque os reflexos
De tanto sol
Nesse sonho cimento:

Haja água mole
Pra tão dura pedra!

Ovelhada

A ovelha negra passa
Pó de arroz na face
Apenas por uma questão
de sobrevivência.

A ovelha branca pasce
E ninguém nota sua presença
ou se nota
É uma anedota, um cumprimento
Uma eloquência, enfim

Não faz diferença.

domingo, 28 de outubro de 2012

Doce

Doce a vida essa
Mas amarga
E tão depressa...

Fosse lida
Como eu leio
Teu sorriso de menina,

Talvez ainda
Um pouco mais
Durasse.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Feito brisa

Hoje bateu a saudade...

Daquele café preto
que só você sabia fazer,
Daquele simples cafuné
que afagando-me apagava
por infindáveis instantes
toda a torturante complexidade
que pode abarcar
uma incansável cabeça de poeta.

Demos nós
as mãos tortas
pelas ruas e retas
E dentro em casa
de almas nuas
Nós nos demos,
tão bem apertados:
quase cegos
um ao outro.

Hoje, a saudade bateu...

Dias como este
em que a brisa se aproveita
pra soprar ao pé do ouvido
Esse nó que ficou
se desatando devagar
E parece reatar-se de repente
a memórias aromáticas
que por algum descuido nosso
Transbondaram,
derramando-se no ar.

Bateu a saudade hoje, sim...
Bateu, mas já passou.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Vão

Ela se foi
Tão rápido quanto
chegou

Deixou no ar
Um perfume
de desilusão

E esse pequeno poema,
Tão qualquer
Quanto qualquer outra
solidão.

sábado, 13 de outubro de 2012

Telemóvel

À criança que sou
Esta máquina homem
Nem sempre responde
- onde, onde...

O eco de ser amiúde
Contempla o dia
De se ver completo
Na incompletude.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ainda mal

Loucos estamos todos
No lodo desse muito
que é tão pouco...

Por uma existência
menos demente
Uma consciência
mais consistente
Uma consistência
mais consciente,
Menos doente:
Um pouco mais convergente.

Pela clarividência
do amor integral
Singrar as marés por igual
Em águas tão turvas
e curvas e metas?
Uma linha reta -
pelo amor de Deus!

...neste mesmo barco
Superficialmente
apenas uns condenados

À pena de estar
(cientes ou não)
do suficiente ainda
Bem afastados.

domingo, 23 de setembro de 2012

Instrumentar-se

Afinar as cordas
do violão
Definir as bordas
das unhas

Destilar as notas
da canção
Atribuir novas
alcunhas

Ao sopro divino
evocado
Em ecos por vezes
equivocados

Ergonometricamente
afagados
A fim de
enganar os ouvidos.

sábado, 22 de setembro de 2012

Presente ar

Minha realidade
é agora;
Minha real idade,
desde sempre...

Realizo
nuvens que passam
Pouco chovendo,
gota por vez

Deslizo
entre mil e uma dúvidas
Minhas esporas:
mal posso esperar!

Valorizo
porém as sombras
Tão só em dias
de sol escaldante

E respiro

Um seguir adiante
que longe me guia
Por onde haja rima
a se me apresentar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Convite a si mesmo

Vamos fazer silêncio
Dar chance ao coração
Transcender a razão
Rasgada de pormenores

Vamos fazer silêncio
Mas sem deixar de dizer
Aquilo que é preciso ouvir
Também da boca das flores

Vamos fazer silêncio
Tirar o chapéu para o tempo
Tirar da cartola um coelho
Que só tenha pressa de ser

Vamos fazer silêncio
Viver esta hora somente
Amor tecendo a semente
Em cada momento a vencer

sábado, 11 de agosto de 2012

Arranha-véu

O certo e o errado
Estão lá do outro lado,
Aqui em poesia
Não tem;

Pode ser tango na panela
Aquarela no tanque
Molho de tomate na vitrola.

Só não pode não ser;
Ora, porquê?
É preciso começar
de algum lugar

(Não se nivela
O que não há
Pra desvelar-se...)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Deixei de viver...

Se eu não tive tempo
pra ser quem eu sou
Se passei em branco
meus dias de flor
Se pisei no asfalto
e não plantei rosas
Se falei alto
mas nunca pra mim

Se não perguntei
porque tudo é assim
Se não tirei prova
de um tempo ruim
Se estive na chuva
mas não pra molhar
Se foi como luva
ficar no lugar

Se não vi surpresa
em me acostumar
Se não vi beleza
em tudo que há
Ou numa tristeza
querendo ensinar
E sem hora marcada
não pude chegar

Se não foi de fato
nem nunca será
Só porque pensei
que era pra duvidar
Sem ver na criança
além da inocência
Um olhar que mostra
a essência do amar

Que nada mais é
que o próprio viver
Vivendo pra crer
e crendo pra ver
Que o sonho é verdade
e a mente se engana
E a gente se dana
Se pensa que sabe
ser da raça humana...

E não se fala mais nisso.

Se as coisas começam
a dar errado assim
sem mais nem menos
Só pode ser porque
tempo, lugar e circunstância
não estão em harmonia...

Eu e a vida
nem sempre
andamos de mãos dadas
Mas passamos juntos
por cada ferida
que o tempo em chuva
nos rasga

Seja fazendo
de um choro samba
ou de um contratempo raga
Ainda que o ritmo
perca a noção do perigo
e atravesse a estrada

Nada nos pára.

É a lua, é o céu
É o sol, é o mar
É o vento, é o chão
É o lar...
É o ser, é estar
É parar pra ver
Que é hora
de continuar

Sem medo de errar
porque fora de mão
já nem dá mais pra ficar;
Pior que isso
só mesmo aquilo
que nunca vai melhorar...

Mas é bela, a vida
Quem dera a saída
soubesse que
já estamos lá

Nesses feitos de encontro
que somos
Sem saber que vamos
pra de onde viemos

Nem tente apostar
duvidar ou menos-
prezar a palavra de Deus:

É certo que o ponto final
afinal
serve apenas
Pra começar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Agosto pra tudo

Agosto não vem a gosto
Vem do dever
na exata medida
Por essas contradições
que a vida
Teima em gostar

Gasta-se a pele
O suor, a saliva
Gasta-se a água
e a gasolina
Ganha-se em troca
um beijo na boca
E o pão de cada dia

O peso do fardo
acaba com as costas
E aquele pão
no fim vira bosta
Fica difícil
fazer sentido
Mas pode apostar...

Ainda há quem goze.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Assim assim

Tem dias que o coração acorda murcho,
falando baixinho
E nem se sabe porquê.

Dá vontade de nada,
De sumir, de sei lá...
A bem da verdade, nem vontade dá.

O céu azul parece cinza,
O sol parece chuva
E sair de casa parece até
uma missão impossível.

Por mais que se fale de amor,
Por mais que se sinta
O cheiro doce de uma flor
Nada tem graça...

Mas, é bom lembrar:
Tal como a nuvem negra
Que não chove, só ameaça,
Isso também passa;

E a língua ao céu do boca
Faz brilhar outro sorriso
Cor de sol...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Chuva?

Vou parar de pensar...

Porque os beijos acabam?
Porque os sonhos fingem morrer?
Porque na lembrança, o cheiro?

Se nem porque o céu
desaba lá fora
Eu fico me perguntando

Que chuva é essa.

domingo, 3 de junho de 2012

Homo Arboreus

Todos temos
o mesmo papel
de não passar pela vida
em branco

Desde quando
nos damos por gente
esboçando
nossos planos

Em folhas que caem
da arborescência
que há no passar
dos anos

feitos de material
reciclável:
Eis o lastro
onde sempre
nos equilibramos.









Foto: Mitsue Yanai

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Renoivado

Me converto ao seu amor
sem perder minha religião

Desencontro a solidão
nesse outono que me dá chão
E uma chance de
pisando as folhas secas
Poder anunciar em festa
nossa aurora!

Que a primavera
nos abra novas eras
E que os sonhos
caiam por terra,
Levantando poeira
para o sempre agora
Que não há de acabar
num simples beijo

Pois o que eu vejo
é uma estrada
Para muito além
de um mero desejo
E cedo que é,
Iremos percorrê-la
sem medo

Até que nada enfim nos separe.

terça-feira, 29 de maio de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

Vagabundismo


Se eu tivesse algum
tempo a perder
Não deixava de me encontrar
Enquanto estou por aí
caçando assunto

E o mundo girando, imundo
Gerando tanto absurdo
Sugerindo idéia
após outra
Poeira de sonho
sujeito à sarjeta

Se ajeita
que a sorte é pra já,
Se joga no jogo
Se suja de ensejo

De morte já basta
estar nesse barco
sem mar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pétalas...

Hoje me faz
movimento e paz

Um olho de fé
no amanhã.

...

Não ria de mim,
sorria comigo;
faz deste ensaio um abrigo

De notas poéticas
tão musicais:
rosário de flores astrais!

...

A gente é meio
que feita de fim

Pelos inícios da vida.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vadio

Eu tenho
licença poética para chover
Todo poeta deveria ter
Licença em dias de chuva
para comtemplar

Uma procissão de guarda-chuvas
em frente ao velório
Sorrisos que não
condizem aos olhos
Espremendo o cérebro
em busca de mais uma rima...

É que vendo daqui de cima
são tão miudinhas







As letras
dessa melodia sem voz

Daydreamer

Escrevo porque estou
enfermo
Réu do que restou
de um céu todo azul
Em busca outra vez
de mim mesmo
Jogando mil passos ao vento
Palavras a esmo

Não saberia melhor traduzir
o que passo ao momento;
Preciso dessa confusão
pra me confessar
Livrar-me da culpa
de não me enquadrar
Num auto-retrato

Meu coração conhece bem
a sublime aflição
desse tédio translúcido
E não há outro remédio
Pelo menos
não agora

Aflora em mim
poesia, seu feto
Feito alergia
aos assuntos mundanos
Sou feito de um sonho
perfeito
Defeitos à parte:

Arte que arde
Reparte-me insano
aos três mundos

E quase mudando de assunto
pergunto-me o que há de errado
Em ter planos assim
vagabundos.

Restrô

Numa esquina
o retrato em movimento
Dentro da moldura desse olhar
impuro, lento

Confessa ao tempo
Uma vaidade cor de cinza
e abacate,
Rebate a tarde que passou
Segura a noite
ainda verde
No pé da mo-
cidade

Revigora a eternidade
enferma de um momento
Os carros vão passando
E até parece:
Não há tempo?

Pare pra parar
Pra respirar
para pensar
e reparar
Na cor azul das asas cruas
de um possível anjo alguém.

domingo, 13 de maio de 2012

Resignar-te

A vida resolver-se-á.
Resina que sobra, lágrima
Troca esse olhar imaturo
por outro mais limpo;
Lapida um sorriso
no rosto, disposto a mudar.

Um brilho preciso é preciso
O óbvio sempre revisto
uma necessidade, basílica:
Precioso sorriso monástico
a la Mona Lisa.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Como vai"

Pouco me importa
a previsão do tempo
Se vai fazer chuva ou sol

O preço do dólar ou
o preço do euro ou
Quem vai jogar futebol

O prêmio da sena
O novo modelo
do próximo carro do ano?

Eu quero apenas
Saber como vai você
- e se estou em seus planos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Veja bem

É preciso suspirar
pra ser poeta,
Suspirar pela vida
ou pelo que quer que seja

Não se dar por vencida
a peleja da amar... (jamais!)

Em tão

Toda flor
se parece com ela
Todo amor parece pouco;
Todo louco
se parece comigo
Todo mundo é amigo meu.

Tudo é fundo
e parece tão raso...
Ou será o contrário?
Entre os passos
espaços tão largos
E eu coração, me rasgo.

E eu, com razão
me abro ao tempo
Sem ela conheço-me bem;
Sei que o surto
é um estéril veneno,
Me furto ao pensamento histérico:

Grandioso mesmo
é ser pequeno.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Humor fina

Quem disse que a palavra humor
não devia ser feminina?
Se muito mais graça há de ter
de tudo que passa, a menina
Que já ultrapassa meu ver
só de olhar
E logo confunde-se ao ter

E funde-se a alma
Na calma de um sonho sorriso
mas

Para ser mais preciso
Precisaria nascer de novo,
melhor:

Mulher.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Colore


A cada par de olhos

Serve a cor

que mais lhe convence,

Mas não lhe pertence

essa cor.



Seja o branco mais pontual

Seja o negro mais reticente

Seja o rosa mais estridente

ou um verde abismal



Todas têm vida e

são lindas por si

Igualmente;



Não falta a uma cor

Seja ela qual for

senão olhos.

domingo, 29 de abril de 2012

Ex-pontânea mente

Estou pensando em não pensar.
Mas que diabo de pensamento é esse
Que anula o próprio propósito?
Filosofia demais, bah...
Quem quer saber?

Quem sabe um dia
Assim como este
Cinza, sem açúcar
A noite amanheça lúcida
E pare pra ver.

Alforria de casa

O céu nasce nublado
Espalha-se em terra
Dobra-se ao tom
da inspiração;

Insano ou sono?
Ou tão, outono.

Devagar, vai levando
À melodia da canção
Novos ares de lá...

Mais um dia essa chuva
Despida de euforias
Perscrutando as plumas
De uma certa poesia
em construção.

Miniconto chinês

O ganso, fiel ao seu amor
Nada em direção
à outra margem do rio
Ignora os medos de outrora
e eis que chega à Primavera
outonando um semitom.

É bom, porque é certeza
de estar vivendo
algo que lhe faça crescer:

A paciência é um certo tipo
de confiança
ou crença.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dois poemas

O que a vida tem de sonho
Tem de ensaio
pra um sorriso tão maior

Que não há de caber
na fotografia.

...

Eu lia as melodias
em teus lábios
E dizia: "a poesia
rima com você,
Não eu";

Você não dava ouvidos
E julgava que entendia
E era triste
Tanta solidão a dois.

Até que um dia
- quem diria -
O coração falou mais alto
E a ironia lhe acordou
Num sobressalto;

Tanto amor de fantasia,
Tanta flor nascendo fria
No jardim
De uma necrópole qualquer?!?

Não há mérito
- nem culpa,
No futuro do préterito
As quimeras,
Feito linhas paralelas
Ainda hão de se encontrar...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Crestando no meio do caos

Não sei quem é você
Nem sei quem sou eu,
Mas sei muito bem
quem somos nós:

Vozes esquecidas
Nesse turbilhão de sóis

a sós.

domingo, 1 de abril de 2012

Aprendiz de primavera

Cavoucando a terra
Com a pa-
lavra paz
Enterrando a guerra
insana
Das minhas quimeras
abismais...

Semeando amor
pelas mãos de uma verdade
Arrancando as ervas
daninhas da vaidade
Plantando um sorriso
dentro do meu coração:

Pra ser mais preciso,
eu prefiro sim
Seguir essa viagem
com muita emoção!

Quero a luz
que me acorde maior;
Faço jus ao presente
de ser
Passageiro que veio
aprender
A crescer Primavera!
de outras esferas aqui
neste mesmo sonhar.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Chovo.

Não há nada em minha cabeça
que não se pareça com aquela nuvem
cinza;
Não há nada em minha sina terrena
Que não desfaleça em água.

Choro.

Choro aqui, ali e acolá;
Choro o pranto dos que perdem
por não esperar;
Chovem cinzas nesse falso carnaval.

A chuva, aliás,
Diz tudo não querendo dizer
nada...
Lilás, abençoa o vôo
De quem segue deixando seu rastro
Sem jamais olhar para trás.

Eu, porém,
Feito sal numa recém-aberta
Ferida qualquer da vida,
Tentando dizer tudo
Vou ficando
Cada vez mais mudo;
Não digo nada além de
Águas, mágoas:

Trago-as neste papel em branco,
Orando para que não tragam-me
Outros tantos
Verdes prantos, frutos
De meros desencontros.

terça-feira, 13 de março de 2012

Na toca do coelho

A altura do muro
A verdade.
Se eu soubesse
Me lembrasse
A cada passo
A prece exata

E não temesse
E não teimasse,
Procurasse
Vez em sempre
Um quê de tudo
Um laço em falso

Em tanto querer
E não querendo
Simplesmente
Me entregasse
Qual buquê
De novas hélices
E ali

Dali se fosse
Mais que uma viagem
De uma virgem
Alice;
O tamanho do furo
O espelho.

domingo, 11 de março de 2012

Coiso

coeso como a coisa
que tem peso
mas não pisa
saio ileso pela reza
e pelo jeito
minha pressa
não dá pé.

esqueço,
o que resta
é o movimento
quando o silêncio
não presta
e ando lento
até pra ver
o manifesto
em minha testa!

e tudo passa
e tal e coisa
e o que fica
além da foto
coisifi-
cando memórias
é só isso:
Teu amor e
coisa e Tao...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Esboço de uma concretude a curto prazo

Taí:
Vou morrer para
o século passado
E virar-me do avesso
pelo meio.
Ou não?

Querendo fazer minha parte
À caótica arte urbana

Sub-nutrida de volições
Mecânicas,
Sub-humanas

Res-
piro mais fundo,
Tentando deixar de sentir
O cheiro cético e absurdo
Das i-
mundanidades.

É quase isso,
o que penso
que preciso - "quase", apenas porque

Não dispenso em palavras.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Marcha fúnebre

O mar nos olhos negros
Verdejantes do meu tempo
Assoviam novo enredo
Como se o vento
Fosse uma mulher

Mas é triste a melodia
Transpirando nostalgia
Reavivando outros dias
Como se a vida
Fosse um cafuné

Um cheiro de café quente
Esfriando a minha gente
Adentrando nossa mente
Como uma semente
Doce de amargar

E o tal gosto acinzentado
Traz ao rosto um enrugado
Pra ficar mais deste lado
Como se o fado
Fosse não ter paz.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pontaria

Espaço escasso:
Não há entrelinhas
Entre as minhas e as suas
Cruas alminhas,

Frias quimeras;
Meras - lindas?
Um dia, quem dera!
Feliz, quem diria...?

Debaixo do sol
Desabam diabos
De onde desata-se o Amor
Das vis fantasias.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Caí na real que ainda não realizei o tamanho da queda. Ando perdendo meu tempo ou o tempo que anda me perdendo? É tarde pra dizer, cedo pra entender. É o medo que me dá coragem, a fama que me deixa à margem. Vazio de tudo que me cabe; ignorância de que nada se sabe. Filosofia pra poucos, muito loucos, quase fora daqui. Eu vi, meus amigos, a contradição em pessoa. Era eu no espelho. Era o espelho em mim. Era e não era, enfim.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A day in the life

I read the news today, oh boy...

Um dia na vida
Um sonho
Lampejo ou
Lacuna,

Desejo
Do eterno
Verão de ser
Quem se é...

Inventando moda
A mão
Impulsionando
A roda,

É foda
É feia
É triste
Assim

A esmo
Alheia
Ao meio
Agora:

Hora
Da lesma
Reinventar
A si mesma.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Chove...

Poema endereçado a Denise Maciel

Não cobre de mim o momento de agora,
Dobre essa página ao meio;
Não se incomode com minha demora
E jamais estarei alheio.

Que o tempo não é
Nem nunca foi um;
Há um tempo pra cada relógio.
É lógico,
Aquilo que outrora
Era aurora pra mim
Pra você, o fim!

Não deixe que essa nuvem negra
Alague um poema
Assim, aprendendo a nadar:
Me cubra de beijos
- deixa eu reclamar!
Meu amor é telenovela.

Depois dos reclames tem mais,
Garanto-lhe tanto
Que nem na garganta me cabe...
Sabe, a gente ainda vai
Gargalhar disso tudo
- e que o céu desabe!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Poema n'Ovo

A ave sai do ovo. O ovo é o mundo.
Quem quiser nascer precisa destruir um mundo.

Herman Hesse

Na foto
Todo mundo é feliz
Na moto
Tem gente empinando o nariz
Na loto
Ser fiel é fácil.

No céu
Não tem vaga faltando mas
No mel
Não tem só abelha pousando;
No fel,
Tem açúcar demais...

No cais
O navio não afunda
Nos ais
É que a gente menos se cuida
No mais,
Todo mundo tem culpa.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Aforismo infrapoético

Estímulos visuais acompanham
a marcha fúnebre de uma preguiça
anímica.
Mas, ao contrário de muitos,
sei bem o que almejo
E não vejo em nada senão
a noção que faço do Todo
em cada coisa.

Por falar em ocasião,
posso dizer que desonheço profundamente
o que seja acaso;
se um mormaço me invade o corpo,
por exemplo,
de alguma causa
é efeito.

Porque não há tempo
sem temperamento,
o sono tempera a vigília:
você dorme mal e a hora
custa a passar...

Mas a ordem dos dias
não muda a poesia em nós:
Poetizo logo existo;
amamos por criar vida
e vice-versa,
Temos todo o tempo de agora
para simplesmente ser!

Mas o que era óbvio...

Lógico que não é mais.
Não se entende um fim
sem saber do começo,
pelo menos não por inteiro.
E é exatamente disso
que se trata o meio:

Estar sendo eu mesmo
ainda que assim tão diverso,
é a única ação que me faz
todo sentido.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Devoluta

O rei volta à revolta
Como quem solta
uma bomba
Na cabeça do século
- descabaçada
Até o caroço.

É osso, eu sei...
A corda no pescoço,
A areia na ampulheta
E a punheta mental
Falando alto, berrando
Seus devaneios de vuvuzela
Goela acima.

Deixamos a rima
pra depois,
Queixamo-nos
do preço do arroz
E quem quer mudar?

Temos flores
para dar
E damos valores
- mais uma vez,
a desumanizar.

Olha, o buraco
é bem mais embaixo;
Você se encaixe
onde quiser,
Só não pense que está
fazendo amor!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mensagem de ano novo

A beleza das emoções
emolduradas pelo olhar
de quem vê
À síncope de uma
saudade serena
Paisagisam a passageira
ordem dos pensamentos
Dispostos ao longo
do pátio da sinceridade.

A verdade é uma só
mas ainda,
Dois são os olhos