sábado, 22 de outubro de 2011

Coceira da vida

Ai! que coceira
Na ponta da língua
Soubesse falava
O quê? isso aí.

Falasse a sua
Minha língua existia
E leve passavam-se
As horas e os dias...

Ai! que besteira
Quem fala essa língua?
Não tenho palavra
Não tenho avenida

Tivesse o sonho
Por realidade
Falo a verdade:
Não reclamaria

Mas ai! que coceira
No céu dessa boca
Poeira engasgada
Na estrada do ensejo

Tivesse o beijo
Daquela menina
Não ficava à míngua
De tanto querer

E de tanto amor
Até eu resistia
A uma tentação
De não existir

Ai! que bobeira
Fraqueza à beça!
Eira nem beira
Pé sem cabeça

Fosse o seu chão
Não caía o teto
De tantas idéias
Em vão dialeto

Faltava rua e
Não tinha problema;
Andava nas águas
Dessa melodia

Fazendo esquecer
Meu doce dilema:
Coceira de ser
Poema da vida.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em busca da mulher poesia

Nem de longe me atreveria
[a tentar
Escrever o melhor dos poemas;
Em busca da poesia mulher,
Só peço que não falhe a pena.

Se vale a intenção já me
[desembaraço
Esboçando um compasso qualquer:
É música em meu pensamento
[a mulher
- e tem como deixar de ser?

Na festa dos dias a fresta
[por onde
Me entra na alma algum sol;
Amada, te sigo as pegadas,
Te faço uma estrada
Mas não andes só...

Pois tu és o chão dos meus sonhos
A terra das flores que ainda
[sementes,
Brincam de esconde-esconde comigo:
Em que futuro estás presente?

A mulher que fica

A mulher que passa
É uma graça infita
Mas não é a mulher que fica;
A mulher que fica
É aquela que traz
No ventre a promessa da paz.

É a própria paisagem
- Montanhas e céus -
Que move-se sem dar na vista;
É o próprio mistério
Da vida ante os astros
Que sempre deixa alguma pista.

Um mar de roseiras
Recendendo afeto
Repleto de espinhos e letras;
Espelho da onis-
Ciência de Deus
Rachado por paixões incertas

Das setas que chegam
Por todos os lados
Tais como balas perdidas;
Na roleta russa
Da sina o acaso
É a sombra da mulher que fica.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sem chão

Quê mesmo que eu ia dizer?
"Padeço, pareço, desapa..."
Ah! lembrei: já conheço;
Sim, isso é só o começo.

Meu berço é a morte
A sorte me azara
Me fará mais forte
Faraó de casa

Com asas e membros
Setembros a gosto
Soturnos dezembros
Outubros no bolso

Repouso em Saturno
Me acordo na Terra
Me berram acenos:
"É Vênus!" quem dera...

É só mais um mártir
Planeta distante
Amante das artes
De quem dissonante

Vai a toda parte
Rindo de janeiro
Fevereiro abriu
No passo das horas

Nas águas de março
Sob o céu anil
Dos ventos de maio
Desmaio sombrio

Mas logo apareço
Falando de amor
Faltando endereço
Pra tanto vetor

Chegando chegando
Cegando o meu ego
Me pego afirmando
E eu mesmo me nego

Mas será que era só isso
O que eu tinha pra dizer?
Se não me falha a memória,
Decerto me falta história.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Personagem

Personagem de mim, outro
A cada instante
Sorrindo o semblante
Da sinceridade das horas
Na voz da tristeza que canta
E que late e levanta
Pra ver o que o ego
Quer dessa vez

Acordo trajado de sombra
E tão logo visto
A primeira persona do dia
Me sinto saído
De algum desenho animado.

Muito embora eu mesma
Me chame de homem
Não sei se o que sou
Tem nos livros de história
Ou de biologia
E se não me falha a memória
Me falta essa (oni)sciência

Pois o que sei é bem pouco,
Quase nada
Perto da imensidão
Dessa estrada
Repleta de auroras.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Auto-psicografia

Na ponta da língua uma vírgula:
O buraco é bem mais embaixo.
A palavra que encaixa no verso,
Universo menor
refletido à míngua?

Se a mula é sem cabeça,
Tem fogo;
A gula que sempre ganha
Vem logo e tamanha:
Nos acompanha
Na crença e no jogo...

Por uma sentença apenas
Vive o profeta, médium,
Poeta:

Estar di(st)ante de si
Para amar ou morrer!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rasante

Você, não sei se
mais peixe que eu,
Mas que consegue
respirar tranqui-
lamente nessas águas

Pode muito bem me
ajudar no meu sufoco
De gaivota de penas
tão permeáveis;

Demovendo quase nada,
Me ensinando a mergulhar
Verá enfim quê lhe darei
à superfície:

Enxergar outra beleza
de viver a luz do Amor
Ainda que seja por uma
breve existência,
Qual faísca dessa vida-
fogo-fátuo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Visionário

Sei que palavras
Não vão traduzir
O que só o tempo
Sabe dizer,

Mas sinto
Na ponta da língua
Uma vontade imensa
De ser...

E ver que não era
Apenas um sonho,
Você
Sorrindo ao meu lado;

Abençoado será
Cada verso
Do nosso poema: Viver!