terça-feira, 30 de outubro de 2012

Na seca

Pouco batom minha sina
Doce minh'alma menina
Funde-se aos olhos marrons;

Tons de garota
Confundem-lhe à pele.

Caia garoa aqui dentro
Refresque os reflexos
De tanto sol
Nesse sonho cimento:

Haja água mole
Pra tão dura pedra!

Ovelhada

A ovelha negra passa
Pó de arroz na face
Apenas por uma questão
de sobrevivência.

A ovelha branca pasce
E ninguém nota sua presença
ou se nota
É uma anedota, um cumprimento
Uma eloquência, enfim

Não faz diferença.

domingo, 28 de outubro de 2012

Doce

Doce a vida essa
Mas amarga
E tão depressa...

Fosse lida
Como eu leio
Teu sorriso de menina,

Talvez ainda
Um pouco mais
Durasse.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Feito brisa

Hoje bateu a saudade...

Daquele café preto
que só você sabia fazer,
Daquele simples cafuné
que afagando-me apagava
por infindáveis instantes
toda a torturante complexidade
que pode abarcar
uma incansável cabeça de poeta.

Demos nós
as mãos tortas
pelas ruas e retas
E dentro em casa
de almas nuas
Nós nos demos,
tão bem apertados:
quase cegos
um ao outro.

Hoje, a saudade bateu...

Dias como este
em que a brisa se aproveita
pra soprar ao pé do ouvido
Esse nó que ficou
se desatando devagar
E parece reatar-se de repente
a memórias aromáticas
que por algum descuido nosso
Transbondaram,
derramando-se no ar.

Bateu a saudade hoje, sim...
Bateu, mas já passou.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Vão

Ela se foi
Tão rápido quanto
chegou

Deixou no ar
Um perfume
de desilusão

E esse pequeno poema,
Tão qualquer
Quanto qualquer outra
solidão.

sábado, 13 de outubro de 2012

Telemóvel

À criança que sou
Esta máquina homem
Nem sempre responde
- onde, onde...

O eco de ser amiúde
Contempla o dia
De se ver completo
Na incompletude.