sábado, 25 de junho de 2011

AIHAI

(by Ed Sottam)

Basatan, o rei dos caranguejos,
Acordou com uma baita ressaca moral
Depois do dia do julgamento
De seus filhos bastardos.

Era noite de eclipse e lua cheia.

Todos na comunidade submarina
Sabiam que não era um momento propício
Para se efetivar uma condenação,
Mas não havia escolha;
O dever falava mais alto.
Mas ainda assim Basatan podia ouvir
Em alto e bom som sua consciência
A pregar-lhe duros sermões...

O que poderia ele fazer?
Afinal, o exemplo tinha que ser dado
Pelo bem da ordem do Estado crustáceo!

Mas não era tão fácil,
Pelo menos para ele.

E a culpa passou então a persegui-lo
Dia e noite, noite e dia.
As semanas se passavam,
Os meses, os anos, e o mesmo peso nas costas...

Até que numa bela manhã de primavera
Desperta-lhe do sono
A imagem de uma linda sereia,
Repetindo em sussurros uma palavra
Até então por ele desconhecida:
"Aihai..."

No mesmo dia ele recebe a notícia
De que seus filhos haviam fugido da prisão.
Ao ser interpelado pela autoridade policial,
Pede para cessarem a busca
E deixar que os fugitivos sigam seus caminhos.
O delegado contestou, mas ordens são ordens.
E a partir daquele dia todos começaram
A duvidar do comportamento do rei...

Então, algumas semanas após o incidente,
A assembléia geral, unanimemente,
Decide pela deposição do monarca,
Acrescida de um exílio
Por tempo indeterminado
Para longe da comunidade.

Basatan aceitou a condição imposta
Sem pronunciar uma letra sequer,
Tomando traquilamente seu rumo e
Levando consigo a certeza das certezas:
Uma leveza jamais experimentada,
Leveza essa que crescia mais e mais
À medida em que tornava a dizer
A si mesmo, com a voz do coração:
"Aihai, aihai, aihai..."

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Auto-exílio num ranário em branco e preto

A rã cinza, ranzinza, coacha.

Acha isso, aquilo e aquilo outro
Acha muito mais do que procura.
Não vai à luta
Mas também não racha...

Talvez a única cura
Pra sua loucura controlada
Seja uma bolacha de borracha

Que apague o som dessa vaidade
Rodando na vitrola,
Violando o colorido da verdade

Dois prantos

Tenho duas vontades de chorar:

Às vezes, porque existo;
Às vezes, porque hesito.

Uma é boa; a outra, nem tanto...

Três pontinhos

Nas retinas
A essência
Do que se pode ver:
Renitentes
Reticências.
Presas do prazer
Que desaponta
Despontando para
Um novo alvorescer

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Proibido parar e estacionar

E as dores me incomodam
E o incômodo me locomove
E a locomoção me leva
À loucura que me alivia
dessas dores

Mas tão logo eu
Me acomodo elas voltam...

domingo, 19 de junho de 2011

As desventuras de Puzzleman na terra dos lobos - parte 3

Dia dos mal-humorados
(El gran finale)

Movido a cafeína e lactose,
O acordo que se faz
Entre corpo e mente insanos
Não permite uma inspiração
Mais profunda.

Mas não é que um desacordo
Vem me acordar?

Dando corda ao desconforto
E cordas e cordas e cordas
Ao desarranjo instrumental
De meus tímpanos saturados

Sete dias depois
De um solitário
Dia dos namorados,
Lá vou eu de novo
Rasgando o véu da semana:

Prestigiando o próprio umbigo
A presentear os amigos
Com desassossegos inóspitos,
Infernizando o sagrado domingo...

Não, não parei por aqui.
Continua a vida acolá,
Entre sonhos e cicatrizes;
Deslizes a nos avisar
Que o fim vai chegar, sim
Mas apenas no dia
Em que estivermos prontos
Pra recomeçar

Sem defecar pessimismos
Ou infantilizar esperanças

terça-feira, 7 de junho de 2011

As desventuras de Puzzleman na terra dos lobos - parte 2

Requebrando a cabeça

E a nossa união
Ficou pra semente;
Quanto mais gente,
Maior a solidão.

O sol não veio
O céu tão feio
Amarga o momento

Mas a natureza do tempo
É mudar:
Certeza é o que nos faz
Duvidar...

Dividir a culpa
Já é solucionar;
Então por que cargas d'água
Tanta chuva, afinal?

Já se lê nas nuvens
Uma linda mensagem de paz
Mas quem quer saber?
Se a morte é mais sexy
E pra sorte é só um "s" no "m",
Dá quase no mesmo.

O descomunal consumismo sádico
Masoquista e auto-decapitável
De uma sociedade insaciável,
É trágico;
Mas como tudo nessa vida,
Passa num passe de mágica!
(e ainda rende umas boas risadas...)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

As desventuras de Puzzleman na terra dos lobos - parte 1

Yes, nós temos baganas!
(para João Luiz Woerdenbag Filho)

Porque eu sou meio macaco
Ela me pergunta
Se eu quero banana...

Uivos em minha mente
E eu não dando conta
De ser gente grande
Tomo um chá, um café
Um guaraná, uma coca-cola
Mas não adianta;
Minha sede mais pura
É de amar por amar...

Faço das tripas coração
Só pra não perder a piada
E o melhor dessa loucura
É ter história pra contar,
Mas nem precisa mandar:
Vou procurar minha turma.
Também vivo nesse mundo
Onde tudo é possível;

Perda de tempo deve ser uma questão
De perspectiva, ou quem sabe apenas
Falta de perspicácia nas antenas...

domingo, 5 de junho de 2011

Reflexo

(poema de Gabriel Rezende)

Na noite vazia lembro
Em quantos olhares mergulhei
De quantos andares eu voei
De janelas frias observei
Na direção do fogo eu pulei
Com os pés no alto eu dancei

Miro o céu que pouco brilha
Na escuridão... suas caras escondidas
E na verdade ainda não se revelou
Aquilo que eu busco não se mostrou
Nas lembranças eu encontro vocês

Atirar-me ou me retirar?
Antes que a cortina se feche
E o público vaie ou aplauda

De passo em passo
Eu faço um traço
E me arrisco a rabiscar
Pra fora do papel

Um reflexo, anexo
De um sonho sem dono

Tocando uma música do passado

(poema de Thierry M. Motta)

Pelas galerias do fundo da noite,
onde o medo espreita o viajante insone,
eu alcei meus braços sobre os violinos
e despertei os vultos de minha maldição.

Do silêncio que se estrangulava em postas,
a cada passo eu recolhia a fátua chama:
eu ateava o sonho às flâmulas mortas
das velhas nações vangloriadas de um coma.

E mais pereço, um subir sem fim, escadarias
onde a vertigem ladra reincidentes faltas,
pórticos precipitando sobre a fúria das hidras,
vou tramando ao violão minha crisálida,
cedo...

Decreto sonâmbulo

"Hey hey hey"
Só pode até 66:
Não é mais permitido ouvir
Nem The Jesus And Mary Chain.

Apenas ecos de Mrs Robinson
Cu-cu-tchu, etc e tal
Mas não durante o carnaval;
Na quarta é que entra em vigor
A lei do Silêncio...

E os animais de estimação
Poderão usar seus revólveres
Para dissonar contra o vento
A favor de momentos oblíquos,
Conspícuos fósseis da noite
Que despem-se de horizonte
E fulguram no ventre
Da Dona Disparidade

Só pra morrer outra vez
Só pra depois acordar
Sem ter que abrir as pestanas
Ou as cortinas da próxima cena.

E a pena de não ser igual
É cumprir o dever de ser livre:
Escrever por extenso a sina
Assobiando para si mesmo
"I'm only sleeping..."

sábado, 4 de junho de 2011

Reflexível

Na noite onde eu me encontro
Do confronto ao desencontro
O conforto de ignorar
O desconforto de mentir
Para si mesmo
A torto e a direito

Estar morto para o dia
E trocar por alegria
Passageira
A sabedoria
De uma vida inteira...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

M.Ú.S.I.C.A.

(Minha Única Salvação da Inércia de Cada Abatimento)

Música pra nascer
Música pra morrer
Música pra vencer o tédio

Música pra viver
Música pra dar e vender
Pode ser um santo remédio



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M.Ú.S.I.C.A. de Julio de Mattos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Deve ser o meu signo
Deve ser minha sina...

Um sino batendo no peito
Um frio na barriga
Um freio no espelho

Um sinal vermelho
Pra verde Lhe amar
Elo azul

Pisando no tomate

(facebook, filtro solar e a família margarina)

Ainda que eu pise no tomate,
No mesmo tomate
Três vezes consecutivas,
Minha vida
Não deixará de ser
Um livro aberto.

Obrigado Bial,
Estranho de casa,
Meu pequeno grande brother,
Por nos ensinar a satânica arte
Do sorriso amarelo...



Sorriso amarelo

Eu queria não querer
Manchar o nosso Elo
Construindo um castelo à beira-mar;
Tão lindo e logo vai se desmanchar...

Eu queria me esconder
Nesse sorriso amarelo
E viver feito um belo marajá...
Mas para ser sincero,
Já nem sei se quero mais.

A paz veio me chamar
E eu preciso atender,
Entender que não existe tanto faz:
Quando se é feliz,
Rapaz!, o melhor é viver pra crer!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Reafirmação

Discernimento,
Missão comprida...
Não tem problema:
A gente encara.

Não encareça,
Não vale a pena;
Carece só
Crescer por dentro

Pois tudo é uma questão de tempo
E tempo é uma questão de tudo...

Pausa para o deslanche

Parei de ser desleixado:
Vou deslanchar.
Já tomei
Muito chá de cadeira,
Chega: preciso parar.

Parar pra pensar
Inspirar
Expirar
E andar...