(by Ed Sottam)
Basatan, o rei dos caranguejos,
Acordou com uma baita ressaca moral
Depois do dia do julgamento
De seus filhos bastardos.
Era noite de eclipse e lua cheia.
Todos na comunidade submarina
Sabiam que não era um momento propício
Para se efetivar uma condenação,
Mas não havia escolha;
O dever falava mais alto.
Mas ainda assim Basatan podia ouvir
Em alto e bom som sua consciência
A pregar-lhe duros sermões...
O que poderia ele fazer?
Afinal, o exemplo tinha que ser dado
Pelo bem da ordem do Estado crustáceo!
Mas não era tão fácil,
Pelo menos para ele.
E a culpa passou então a persegui-lo
Dia e noite, noite e dia.
As semanas se passavam,
Os meses, os anos, e o mesmo peso nas costas...
Até que numa bela manhã de primavera
Desperta-lhe do sono
A imagem de uma linda sereia,
Repetindo em sussurros uma palavra
Até então por ele desconhecida:
"Aihai..."
No mesmo dia ele recebe a notícia
De que seus filhos haviam fugido da prisão.
Ao ser interpelado pela autoridade policial,
Pede para cessarem a busca
E deixar que os fugitivos sigam seus caminhos.
O delegado contestou, mas ordens são ordens.
E a partir daquele dia todos começaram
A duvidar do comportamento do rei...
Então, algumas semanas após o incidente,
A assembléia geral, unanimemente,
Decide pela deposição do monarca,
Acrescida de um exílio
Por tempo indeterminado
Para longe da comunidade.
Basatan aceitou a condição imposta
Sem pronunciar uma letra sequer,
Tomando traquilamente seu rumo e
Levando consigo a certeza das certezas:
Uma leveza jamais experimentada,
Leveza essa que crescia mais e mais
À medida em que tornava a dizer
A si mesmo, com a voz do coração:
"Aihai, aihai, aihai..."
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